sábado, 4 de agosto de 2018

O sonho

Quando despertou de um sonho, com pinceladas pouco precisas, pôs-se a pintar um quadro com as cores que tinha nas mãos.
Pousou então o quadro sobre a mesa do quarto e, com os olhos brilhando e com os pincéis molhados de tinta, saiu pelo Mundo a procura das cores que não tinha nas mãos. As mesmas cores que tinha visto no sonho do qual havia despertado.
Aqueles que compartilhavam o seu mundo não compreendiam o significado do que estava pintado e o por quê da sua busca pelo Mundo. E assim o quadro ficou no mesmo lugar em que estava pousado por muito tempo.
Numa manhã qualquer, o tempo, o espaço e a distância deram as mãos e começaram a girar e a brincar, e as cores pintadas com pinceladas pouco precisas começaram a ganhar vida.
Aqueles que amavam aquela pessoa que um dia saiu a procura das cores que não tinha nas mãos voltaram ao quarto que ela havia deixado para trás. E pela primeira vez o quadro foi tocado.
Estava tudo ali, por entre cores agora desbotadas: As conversas adiadas à volta da mesa, o amor que não libertava, e palavras que nunca foram ditas.
Ao mesmo tempo que uma lágrima salgada descia lentamente do rosto de quem tocava a tela, as cores e o sonho foram entendidos e passaram a girar e a brincar de mãos dadas com o tempo, o espaço e a distância.
Com carinho e cuidado, o quadro finalmente foi colocado na parede do lugar de onde anos atrás vivia a pessoa que partiu para o Mundo em busca das cores e do sonho, ainda com o pincel molhado de tinta. Os sonhos e as cores agora eram também das pessoas que a amavam.
E assim ela viveu para sempre, no ninho que a viu nascer.

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Glauco Viana