sábado, 4 de agosto de 2018

Corte

Caminhava por cima das pedras em direção ao mar. Levava dentro da mão direita um anel de metal que um dia foi uma aliança. Parou na ponta de uma pedra, fechou os olhos e, como numa reza, balbuciou convictamente frases ritmadas, devolvendo ao Universo atos e palavras em forma de metal circular.
Então jogou o anel no mar, caminhou de volta sem olhar para trás e nunca mais voltou àquele lugar. O mar, no seu ciclo infinito, cobriu o que havia restado da aliança, que junto com o sal marinho, carcomeu promessas, sonhos, compromissos e caminhos que nunca foram e serão percorridos. E a vida seguiu no seu vai e vem, diluindo e renovando esperanças, transformando e libertando sonhos sem nunca perder a sua essência, que é o motor de encontros e despedidas, que são intensos e impermanentes como as ondas do mar.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Glauco Viana