sábado, 4 de agosto de 2018

Claudionor Cruz

Por volta de 1987, como estudioso do choro escutava sem parar todos os discos que encontrava. Um destes discos (o 1º do Conjunto Galo Preto) tinha um choro chamado “O dia do Preto Velho”, de Claudionor Cruz, em que o mestre empunhava com competência o seu violão tenor.

Foi por acaso que conheci pessoalmente Claudionor Cruz. Estava falando sobre o choro com um amigo quando uma pessoa que ouvia a conversa me perguntou se eu conhecia o “maestro” Claudionor Cruz. Para encurtar a conversa através desta pessoa consegui o contato dele e imediatamente agendei um encontro em sua casa, em Pilares, Zona Norte do Rio de Janeiro. Para esta empreitada contei com o valoroso apoio de um amigo, o Alexandre Nunes, músico e estudante de Musicoterapia no Conservatório Brasileiro de Música e que dividia comigo a primeira formação da  Orquestra de Cordas Brasileiras, tocando bandolim.

O ônibus para Pilares saía da Praça Tiradentes, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro. Chegando lá, nós subimos uma ladeira íngreme que nos levou à casa do mestre. Uma placa na porta indicava que havíamos encontrado o destino: “Claudionor Cruz – Residência”. Tocamos a campainha, entramos, e lá estava Claudionor Cruz rodeado de gente e com a casa cheia de instrumentos musicais. Eu e o Alexandre tínhamos a ideia de fazer uma biografia de Claudionor Cruz. Levamos um gravador e registramos não só seus  depoimentos como interpretações de choros ainda inéditos. Para mim era algo inacreditável: Eu, com 22 anos, acompanhando Claudionor Cruz ao violão... Tentei reproduzir estes encontros musicais no meu CD Guitar Works, na faixa “Compadre Luiz ” em que tento imitar o fraseado de Claudionor Cruz no violão de cordas de aço, como se estivéssemos tocando em duo.

Estas duas cassetes infelizmente foram extraviadas mas consegui transcrever para a partitura algumas obras interpretadas por Claudionor Cruz. Apresentei uma delas ao Afonso Machado, do Galo Preto, que foi registrada no 3º disco do conjunto. Esta música se chama “Este Choro é meu pranto” e conta com um belíssimo arranjo de Luiz Otávio Braga.

Organizamos uma palestra no Conservatório Brasileiro de Música. A ideia era mostrar aos estudantes esse documento vivo da Música Brasileira. Claudionor Cruz contou muitas histórias e interpretou vários temas de sua autoria. Claudionor Cruz estava acompanhado por Marise, uma cantora que fazia parte do regional “As Brasileirinhas” criado por ele na década de 70. No final tive o privilégio de tocar junto com o mestre o choro “O dia do Preto Velho", gravado no 1º disco do Galo Preto, com a participação do autor.

Eu e o Alexandre estivemos no seu aniversário. Levávamos nas mãos um catálogo de partituras copiadas na biblioteca Nacional. Por solicitação do próprio Claudionor Cruz entregamos todo este material à uma “pesquisadora” que estava presente na sua festa de aniversário. Este material nunca mais apareceu e com ele foi-se o projeto da biografia...

Ao mestre Claudionor Cruz o meu muito obrigado. Fica a lembrança daqueles memoráveis saraus em Pilares, onde, entre música e histórias, eu aprendia sobre a vida.

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Glauco Viana