terça-feira, 15 de setembro de 2020

Glauco Viana

Com 18 anos, já há muito havia decidido viver de música. E passava muito tempo estudando violão.

Minha mãe tinha o hábito de andar pelas ruas de Santa Teresa conversando com vizinhos quando saía para fazer compras, ir a feira, etc.

Certa vez, ela me disse em casa que havia comentado com um vizinho que eu era músico. Este vizinho morava quase em frente a minha casa, e que já era músico há muito tempo, se interessou em me conhecer.

Este músico era Sérgio Viana. Um músico com muitos anos de carreira que, além de compositor, era multiintrumentista com vários discos editados.

Fui em sua casa, toquei o que sabia, e ele decidiu me colocar na banda que estava montando para um concerto no "Sabor e som", que era uma casa de shows recém-inaugurada em Santa Teresa. 

Nos ensaios, o seu pai ficava sentando na poltrona da sala escutando o que a gente preparava para este concerto.

Nesta época eu já tocava choro. Talvez, por este motivo, nos aproximamos.

O pai do Sérgio Viana era Glauco Viana, um exímio violonista e compositor que gravou seu primeiro disco aos 14 anos e foi parceiro de Noel Rosa e Lamartine Babo. "Seu" Glauco (como eu o chamava) estava mais perto do meu interesse do que a banda do filho, que estava focada em "música de baile".

Depois do concerto, passei a frequentar a casa de Glauco Viana para aprender a forma como ele tocava violão e ouvir as suas histórias. 

Seu Glauco tinha um violão com cordas de aço feito à mão pelo "velho Cunha" (como ele o chamava) que era uma verdadeira preciosidade, com uma caixa de ressonância um pouco menor do que a habitual e com uma linda rosácia feita à mão com desenhos em madrepérola, tinha um grande volume de som e mesmo com cordas de aço, era bastante "macio" de se tocar. Era neste violão que Seu Glauco interpretava com desenvoltura choros, maxixes, polcas e valsas. Eu ficava impressionado com o "toque" e a técnica que ele utilizava para tocar violão, que era bem diferente da que eu utilizava nas cordas de nylon.

Glauco Vianna foi amigo de Rogério Guimarães, João Pernambuco, Mozart Bicalho e Jaime Florence, pioneiros do violão brasileiro, e tinha várias "bolachas" em 78 rpm com suas próprias gravações. Ele havia se tornado dentista e frequentemente reclamava de dores na mão direita ao tocar violão por culpa do uso do boticão... 

Eu sempre que ia a sua casa, levava comigo um gravador de fita cassete e folhas de partituras para escrever o que ele tocava. Deste convívio, escrevi duas de suas obras inéditas: O choro "Chorando no bondinho" e a valsa "Sonhando".

Nesta trajetoria em busca das raízes do violão brasileiro, Seu Glauco foi mais um mestre com quem tive a sorte de encontrar pelo caminho. Obrigado pela generosidade, Seu Glauco. Guardo com muito carinho este curto convívio onde aprendi muito sobre o nosso violão e nossa História.



sexta-feira, 20 de março de 2020

Quarentena...



Estando em quarentena por conta do COVID-19, resolvi fazer uma decodificação melódico-harmônica do respectivo vírus. À primeira vista ele reúne elementos da cifragem prática, cifragem analítica e intervalos.

1) Em 1º lugar, vamos separar os elementos:

CO-V-I-D-1-9

O “CO” me parece um acorde diminuto disfarçado. Seria melhor escreve-lo como Co caracterizando-o como acorde de “Dó Diminuto”, que leva na sua estrutura “molecular” a fundamental (1), Terça menor (b3), Quinta diminuta (b5) e Sétima diminuta (bb7).
No campo harmônico de “Dó Maior”, colocaremos o acorde Co como I Grau, que por ser acorde diminuto (Acorde com 2 trítonos), não serve de “repouso.”

(Cifra prática)    // Co //
(Cifra analítica)  // Iº   //

2) O “V-I” me parece ser uma “cadência perfeita” (Dominante - Tônica), sendo o V Grau o “Dominante primário”.
Entretanto, observamos que o V carece de 7º menor, portanto, não forma trítono (3, b7), e desta forma diminui a força de resolução no I Grau, o que nos faz descartar esta possibilidade.
Entretanto, se tirarmos o traço, teremos o VI, que no campo harmônico do Tom de “Dó Maior” seria o VIm.

(Cifra prática)    //  Co / Am   //
(Cifra analítica)  //     /  VIm  //

3) O “D-“ seria uma outra forma de escrever a “Cifra prática” de Ré menor (Dm), que no campo harmônico de “Dó Maior” seria o IIm. Desta forma teremos:

(Cifra prática)    // Co / Am   / Dm  //
(Cifra analítica) //     /  VIm  /  IIm  //

4) Por último, o 1-9, que pode ser o intervalo de “Nona Maior”. A minha dúvida é se este intervalo se aplica à Tônica (Co) ou ao acorde anterior (Dm).

No primeiro caso, se aplicarmos à Tônica, teremos a Fundamental de Dó como ponto de partida. Desta forma, a Nona (T9) seria a nota Ré.
O acorde diminuto aceita qualquer Tensão ascendente que esteja a um tom acima de cada nota do acorde. O Ré (T9) está desta forma a um tom acima da fundamental (1) do acorde e aparece na escala diminuta como "nota de passagem" do 1 ao b3, portanto, funciona bem dentro da melodia.*

No segundo caso, adicionando a T9 ao acorde de Ré menor (Dm), teremos Dm(add9), que soa lindamente no final da respectiva sequência. Como o foco é a sequência harmônica, optei então pela aplicação da T9 no acorde de Dm.


(Cifra prática)    // Co / Am   / Dm  / Dmadd9 //
(Cifra analítica) //     /  VIm  /  IIm  /  IImadd9 //


Fazendo uma última análise, a sequência começa de forma tensa, com o acorde diminuto e fica suspensa no acorde de Dmadd9, numa espécie de “Cadência Plagal” sem resolução…

A esperança é que a sequência se inicia com um acorde diminuto (Co) que não serve de acorde de “repouso” e tem dois trítonos. Cada trítono resolve em dois acordes, o que quer dizer que podemos “modular” a partir deste acorde para uma outra sequência com uma “Cadência Perfeita” (V – I) no final dela, resolvendo tudo!

* Agradeço a colaboração importantíssima de Felipe Barão neste ítem






terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Passarinho



Do meio de um nevoeiro
Vindo do céu, qual centelha
Um passarinho ligeiro
Pousou em cima da telha

Olhando seu ar sobranceiro
De quem domina a cidade
Um pensamento certeiro:
“Quem gorjeia em liberdade
Não canta no cativeiro”

Prende-lo, não poderia
A gaiola é desumana
Pra quem do seu voo se ufana
Prendia-o a uma poesia
Feita por Mário Quintana
Ou numa fotografia

Glauco Viana